domingo, 30 de março de 2008

A vitória do amor - Dom Aloísio Sinésio Bohn



Desde menino fico impressionado com o gesto de Jesus de lavar os pés dos discípulos. Ele é o Filho de Deus, que assumiu a natureza humana. João conta: “Jesus levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido” (Jo 13, 4-5). Depois Jesus explicou o gesto: “Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13, 15).

Sempre me pergunto: o que significa hoje “pegar uma toalha e lavar os pés”? Jesus, sendo Deus assumiu a forma de servo. Isto é, tornou-se pobre e humilde e colocou-se a serviço da humanidade.

Os cristãos (discípulos do Senhor) somos convidados a assumir também uma postura de humildade e de despojamento, para colocar-nos a serviço do povo aflito, frágil e sofredor: os pobres, os doentes, os fracos, os presos e os que sobram no mundo do consumo.

Jesus criou uma lei nova: “Que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”. No consumismo a lei é a concorrência. Quando falta o amor e a amizade, nenhuma lei, nenhum ordenamento jurídico é suficiente. Mas quando a velha Igreja se reveste de amor, de solidariedade, então parece nova, irradia o Evangelho.

Importante notar que nos pobres os cristãos vêem o próprio Jesus: “Eu vos asseguro: o que fizestes a estes meus irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25, 40).

É muito comum que um gesto fraterno seja condicionado ao julgamento da pessoa necessitada: Não quer trabalhar, é preguiçoso, mente para arrancar ajuda etc. Se Deus condicionasse a salvação ao julgamento, quem mesmo seria salvo?!

Não é só no pobre, no fraco, no necessitado que demonstramos nosso amor a Jesus. Na semana santa somos convidados a nos unir de modo solidário à pessoa do próprio Senhor. Quando Ele esteve em Betânia, na casa de Simão (o leproso), “aproximou-se dele uma mulher com um frasco de alabastro cheio de um perfume de mirra caríssimo, e o derramou em sua cabeça, enquanto estava à mesa” (Mt 26,6 ss). Jesus gostou e elogiou a mulher: “Ela fez uma ação boa para comigo”.

Magnífica a atitude de João: sem falar nada, acompanhou o caminho do Calvário, ficou ao pé da cruz com Maria. Ele mesmo conta: “Jesus, vendo a mãe e ao lado o discípulo predileto, disse: “Mulher, aí está teu filho. Depois diz ao discípulo: “Aí está a tua mãe” (Jo 19, 26-27).

Nesta semana santa estarei cingido de toalha para lavar os pés de alguém; estarei disposto a ser Cirineu, para ajudar alguém a carregar a cruz; ou Verônica a enxugar o suor, a aliviar o sofrimento. Sem esquecer de me colocar solidário ao pé da cruz, com Maria e João. Só o amor explica o que Deus fez por mim, por nós!