domingo, 6 de abril de 2008

Governador Blairo Maggi afirma que tem contemplado a Capital com uma série de recursos, mas reconhece que a cidade merece muito mais



Maurício Barbant/DC


Governador Blairo Maggi (PR)

NOELMA OLIVEIRA
Da Reportagem

Às vésperas do aniversário de 289 anos de Cuiabá, o governo do Estado lança um novo pacote de obras. Mas o governador Blairo Maggi (PR) afirma que os investimentos na Capital têm sido uma constante na sua gestão, independente de quem esteja à frente do Poder Executivo municipal.

Maggi lembra que nem nos anos mais difíceis para o Estado deixou de aplicar recursos em Cuiabá. As críticas dirigidas contra ele pelo prefeito Wilson Santos (PSDB), adversário político, parecem não preocupar o governador.

O chefe do Executivo estadual, que relatou a série de investimentos feitos na Capital ao longo de cinco anos e três meses, não considera o prefeito ingrato. Segundo ele, Wilson está no seu papel, que é de cobrar e de sempre querer mais. “Nós não somos um governo de Cuiabá, somos um governo de Mato Grosso”, afirma ao explicar as demandas municipais.

Num momento de descontração, Maggi contou que se fosse atender integralmente todas as demandas dos prefeitos o orçamento do Estado seria gasto em único dia. Nesta entrevista, o governador relata especificamente os recursos aplicados na Capital.

Diário – Como o senhor define hoje Cuiabá?

Maggi – Cuiabá é uma cidade quem tem crescido muito nos últimos tempos, com um desenvolvimento acima da média nacional, e com isso tem suas vantagens e seus problemas também, problemas já de cidade grande, que precisam ser resolvidos e que o poder público vem tentando resolver com os esforços do governo municipal, com ajuda dos governos do Estado e Federal. Todos trabalham e sempre ficam coisas para se fazer. É uma cidade que tem um grande desafio pela frente com os seus administradores e também seus moradores. Todo mundo tem que entender que uma cidade não é só o poder público que faz ela, quer dizer, as pessoas que moram nela, que ajudam a construí-la, e ela é melhor, ou pior dependendo das pessoas que ali vivem e do jeito que elas querem viver. Então, a cidade de Cuiabá é igual às outras, com suas vantagens e desvantagens e que todos nós temos a obrigação de trabalhar para melhorar cada vez mais.

Diário - Em Mato Grosso o senhor escolheu Rondonópolis para morar. Depois que terminar o governo, o senhor viria morar em Cuiabá?

Maggi – Eu não escolhi Rondonópolis para morar, eu fui levado para lá. Até porque a atividade que minha família escolheu para desenvolver aqui em Mato Grosso lá. Era lá que a gente tinha as atividades. Já até tentei transferir a sede da empresa para Cuiabá, mas a resistência familiar é muito grande, não da minha família, mas minha irmã, cunhados, diretoria e coisa parecida. Então, é uma dificuldade grande de fazer isso, eu não teria dificuldade nenhuma em morar em Cuiabá. Muito pelo contrário, gosto daqui e já estou aqui há seis anos. O que eu sinto neste momento é que eu ainda não tenho residência fixa aqui e tenho residência fixa lá. Então, eu só trabalho aqui e tento passar os finais de semana lá. Então, eu estou perdendo minha turma de amigos lá e não estou conseguindo formar uma turma de amigos. Então, estou igual a estudantes que mora fora de casa, mas é que eu não teria dificuldades nenhuma em morar aqui, inclusive estou comprando uns terreninhos aqui e, quem sabe?, no futuro...

Diário - Nestes cinco anos e três meses de governo, o senhor contemplou Cuiabá com o que ela merece?

Maggi – Talvez com o que ela merece não, mas com o que eu pude dar, sim. Como eu disse no início da entrevista, uma cidade tem muitos problemas, portanto o que ela precisa e merece é muito mais em termos de investimentos. Em nenhum dos anos, pelos mais difíceis anos que eu passei aqui no governo, nós deixamos de fazer investimentos na cidade de Cuiabá. Fizemos muitos investimentos e estamos fazendo neste momento. Esta semana mesmo estamos lançando três obras importantes, que vão somar um desembolso em 2008 de 29 milhões de reais, sendo 10 milhões para Avenida das Torres, 10 milhões em asfalto nos bairros e mais 9 milhões do PAC, sendo que do PAC são 19 milhões, 9 milhões para este ano e mais 10 milhões para o ano que vem. Então, o governo faz aquilo que podemos fazer com os recursos que nós temos. Nós não somos um governo de Cuiabá, somos um governo de Mato Grosso, e como um bom pai e uma boa mãe, nós precisamos dividir um pouquinho do que nós temos para cada um dos nossos municípios.

Diário – O senhor em algum momento cometeu alguma discriminação política com Cuiabá em relação à administração da cidade, quando o prefeito era Roberto França, então militante do mesmo partido que o senhor, o PPS, e hoje com Wilson Santos?

Maggi – Não. Quando Roberto era prefeito, nós assumimos o governo e fizemos uma série de investimentos com ele e um deles que cito, por exemplo, foi o asfaltamento das vias de ônibus e junto com Roberto, no final do governo dele. Deixamos em torno de 95% a 97% das linhas de ônibus asfaltados. Então, foi um grande programa. De lá pra cá todos, todos os anos, nós temos colocado recursos na prefeitura e em coisas que são obrigação da prefeitura. Isso que é importante, o Estado não tem essa incumbência de fazer asfalto urbano, mas sempre que a gente pode, sempre que tem algum recurso disponível, nós estamos fazendo. Então, não tem discriminação por ter sido Roberto, que antes era meu companheiro de partido (PPS), ou Wilson, que é meu adversário político, o tratamento é igual.

Diário – Mesmo que venha outro prefeito, o tratamento vai continuar a mesma coisa?

Maggi – Continua a mesma coisa e não tem porque mudar. O compromisso é com a população e não com o prefeito, eu sou passageiro, o prefeito é passageiro, outro é passageiro. Ah, se eu tivesse disponível todos os anos 100 milhões de reis para colocar em Cuiabá.

Diário - O PR tem candidato à prefeitura de Cuiabá?

Maggi – Vai ter candidato, pode escrever aí: vai ter candidato.

Diário – Quem é o candidato?

Maggi – Nós estamos trabalhando o nome de Mauro Mendes. Ele já não fala não, fala assim: vamos ver.

Diário – Governador, nestes cinco anos e quatro meses de administração o senhor tem quantificado o montante de investimentos feitos em Cuiabá?

Maggi - Conforme levantamento realizado pela Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia, nestes últimos cinco anos foram investidos na Capital cerca de 317 milhões de reais. Ao todo, foram beneficiadas 34 empresas que geraram 3.781 empregos diretos e 9.340 indiretos. Foram vários os ramos de atividades beneficiados: o de confecção, fábrica de embalagens de alumínio para bebidas, reciclagem de embalagens, beneficiamento de mármore e granito, indústria e comércio de transformadores elétricos, indústria de beneficiamento de papel e vários outros segmentos.

Diário - Todos têm conhecimento de que Cuiabá, até por ser a Capital, acaba se tornando referência em vários setores para o Estado. Na área da saúde, o que governo do Estado tem feito para evitar o ‘gargalo’ no atendimento à população carente nos hospitais públicos da Capital, principalmente no Pronto Socorro da Capital?

Maggi - A Secretaria de Estado de Saúde se coloca como parceiro incondicional e como gestor co-participativo na administração pública da Saúde da capital. Cuiabá é gestora plena do seu Sistema de Saúde. Hoje o Estado repassa 15,6 milhões por ano para o Pronto-socorro Municipal, o que dá uma verba mensal de 1,3 milhão. O Estado também mantém convênios com o Hospital do Câncer, onde faz a manutenção das UTIs, com o Hospital Geral Universitário – para a utilização dos serviços do Centro Cirúrgico, Oncologia, Tratamento Renal, UTIs e para tratamento labioleporino. Com o Hospital Santa Helena o Estado tem convênio para os serviços materno-infantil e com a Santa Casa de Misericórdia tem convênio para as UTIs e serviços de alta complexidade. Além disso, o Estado presta serviços importantes à população. Por exemplo, o Samu, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, que atende Cuiabá e Várzea Grande. O serviço, que vinha funcionando com recursos do Fundo Estadual e Saúde, a partir da reestruturação conta agora com a parceria do Ministério da Saúde, que financia 50% dos custos. O Samu conta hoje com 31 médicos, 30 técnicos em enfermagem, 20 enfermeiros e 21 motoristas e dispõe de 12 ambulâncias. Por meio de serviços importantes como o Ceope, MT-Hemocentro, MT Laboratório, Cridac e farmácia de alto custo, cerca de 15 mil pessoas são beneficiadas mensalmente. Além desses serviços o Estado ainda capacita os servidores da Rede SUS por meio da Escola de Saúde Pública e cede Recursos Humanos. Ainda mantém serviços das Vigilâncias sanitária, ambiental e epidemiológica, entre tantos outros.

Diário - Um dos sonhos ou mesmo expectativa de muitos cuiabanos e dos brasileiros que aqui moram é com relação à obra do Hospital Central paralisada há mais de 20 anos. Ainda na sua gestão a construção andou só um pouco. Quanto foi investido? Qual o motivo da paralisação, novamente? Enfim, o que estado pretende fazer com aquele prédio inacabado?

Maggi - A Obra do Hospital Central foi retomada em 24 de novembro de 2004. No ano de 2005 foi investido 1,8 milhão. Esse investimento foi para a conclusão da ala C, que iria funcionar um Pronto-atendimento e o setor de Administração. A ala D – ambulatório, e a ala A - setor de imagem. Com a queda no orçamento foi tomada a decisão de paralisar a obra e dar continuidade às ações de Saúde. Neste intervalo surgiu uma nova proposta: o governo federal, por meio dos ministérios da Educação e Saúde, Universidade Federal de Mato Grosso e o Estado, estudou a viabilidade da construção de um Hospital Federal. A idéia avançou e o projeto foi aprovado. Ficou para a UFMT a elaboração e administração do Hospital. O Governo do Estado, de ceder o terreno. O terreno fica na área do Adalto Botelho e tem 70 hectares. A capacidade do Hospital é para 220 leitos e vai funcionar como hospital-escola. Segundo a UFMT, a Bancada Federal dispensou 9,8 milhões de reais de emendas destinada ao Hospital. Existe uma consulta feita à Procuradoria Geral do Estado que ainda está estudando juridicamente se o Estado pode usar o antigo Hospital Central como a nova sede administrativa da Saúde do Estado. No entender da SES, o Hospital Central é uma obra já defasada na sua capacidade de atendimento e estrutura arquitetônica, e o Hospital Federal supriria esta obra.

Diário - Especificamente no setor de infra-estrutura, quanto foi investido em Cuiabá?

Maggi - Até agora o governo do Estado já investiu cerca de 282,9 milhões de reais em Cuiabá. São obras que contemplam todos os setores e que melhoraram a vida da população. Foram investimentos no setor de habitação, asfaltamento de vias urbanas, duplicação de rodovias, restauração, construção de pontes, reformas de escolas, outros prédios e instituições públicas, além de parcerias e convênios com várias instituições, como o Senai, que, com o projeto Colher na Massa, qualificou grande número de profissionais.

Diário – Governador, na questão da saúde o senhor tem alguma a mais para investir em Cuiabá?

Maggi – O maior investimentos que fizemos na saúde foi aqui em Cuiabá: aqui estão os centros de referência, aqui estão as universidades, os hospitais universitários, os leitos de UTI, Santa Casa, o pronto- socorro, e nós colocamos dinheiro em todos eles. Aqui nós temos a central de medicamentos de alto custo e a grande maioria dos usuários está aqui em Cuiabá. Posso dizer com toda tranqüilidade que 70% do dinheiro da saúde é gasto em Cuiabá de forma direta ou indireta. Aí tem o restante dos municípios que a gente tem que atender também, mas posso dizer que boa parte dos recursos fica aqui. Agora, mais uma vez tem que se entender o que é função de cada um, não dá para confundir o que é a obrigação do município e do Estado. Tem coisas que são obrigação e que todos os municípios já assumiram e que em Cuiabá ainda fica com o Estado como, por exemplo, o Lar da Criança. O Estado não tem essa obrigação e faz tempo que deixou de ter essa obrigação. Quem assume é a prefeitura e o Estado co-financiador deste processo, mas a administração é da prefeitura, aqui não o Estado é quem faz. Outro exemplo é o Procon, mudando um pouco de assunto, em todos as cidades são municipais e aqui nós temos que segurar. Então, tem uma série de serviços que o Estado banca na Capital, que deveria ser do município. Bom, nós estamos indo para um novo pacto na saúde agora que o governo federal já determinou. E nós estamos trabalhando para isso que todo o gerenciamento da saúde vai passar a ser do prefeito, independente de quem quer que seja, a saúde do município é do município. Se tem um hospital estadual é ele (município) que tem que gerenciar. Nós vamos passar para os municípios a estrutura, recursos, mas o gerenciamento será do município. O que se pretende com isso é que os médicos da rede estadual, por exemplo, que são especialistas em uma determinada área e estão trabalhando num determinado hospital se possa pegar um desses médicos deste hospital e levá-lo para o pronto-socorro, que é hoje o município que cuida. Isso vai acontecer em todas as cidades. A idéia é a de que o gerenciamento fique com o município, e a União e o Estado como co-financiadores.

Diário - Com todos os investimentos que o governo aponta ter feito em vários setores na Capital, o senhor considera o prefeito Wilson Santos ingrato por dirigir críticas ao governo alegando falta de investimentos?

Maggi – O prefeito Wilson é igual a qualquer outro prefeito: sempre quer mais. Está no papel dele.