domingo, 30 de novembro de 2008

Primeira-dama e secretária de Trabalho, Emprego, Cidadania e Assistência Social fala sobre política e preocupação com destino de jovens carentes





Conhecida por seu estilo de falar sem rodeios, Terezinha Maggi mostra-se centra em relação ao marido Blairo e aborda sucessão de governo
Téo Meneses
Da Redação

Terezinha afirma que, mesmo defendendo que o governador conclua o mandato e não se afaste antes do fim do ano de 2010, não pode exigir de Blairo que ele deixe de atender às expectativas do povo. A decisão, segundo ela, cabe ao PR e seu grupo político. O mesmo ela diz sobre o diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, em relação a disputa pelo governo do Estado e uma nova candidatura do empresário Mauro Mendes, derrotado no segundo turno da eleição em Cuiabá.

Em entrevista concedida em seu gabinete ao Jornal A Gazeta, Terezinha ainda comenta os principais trabalhos da Secretaria e a campanha Natal das Crianças. Sobre a polêmica relação com o município de Cuiabá, alega que o Estado apenas cumpre o seu papel de fiscalizador ao apontar falhas na prestação de contas da Prefeitura para liberação do dinheiro do Bolsa Família. Também não descarta uma intervenção do governo na Capital para que as famílias que correm risco de perder o benefício não sejam mais contempladas.

Terezinha - Quando me pronunciei sobre isso, me foi questionado apenas se eu achava que o Blairo deveria concluir o mandato. Disse que sim. Como você está me perguntando agora se ele deve ser candidato ao Senado, digo que apóio a decisão que ele tomar. Se ele quiser ir, tem que ir. Se ele tiver outro candidato do PR, no entanto, eu apóio também. Temos que ver o momento e combinar com o povo. Não podemos decidir apenas entre poucas pessoas. As pesquisas também têm quer ser avaliadas.

A Gazeta - E a possibilidade dele ser candidato a vice na chapa da presidenciável Dilma Roussef, atual ministra-chefe da Casa Civil?

Terezinha - Tudo é louvável e eu concordo se for para o bem do Brasil. Eu sou companheira.

A Gazeta - Qual a sua avaliação sobre o anúncio do diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, que já diz estar em pré-campanha?

Terezinha - Ele é o meu candidato.

A Gazeta - O fato dele não ser muito conhecido por uma parcela da população não pode prejudicar?

Terezinha - Não concordo com essa avaliação. Ele tocou um dos maiores projetos de infra-estrutura da nossa história. Acho que ele é, sim, muito conhecido. Mato Grosso também pode lhe conhecer ainda mais, portanto, acho que isso não vai ser problema. O Mauro Mendes também iniciou a campanha com menos de 1% nas pesquisas em Cuiabá. Temos que ter uma comunicação que até o leigo possa ver, talvez através de figuras e uma linguagem bem popular.

A Gazeta - O Mauro Mendes deve continuar na vida pública?

Terezinha - Acredito que sim. Ele não pode se recusar a atender uma expectativa da população.

A Gazeta - Qual a sua avaliação sobre esses anos no comando da Setecs?

Terezinha - É lógico que sempre queremos fazer mais, mas os resultados que tivemos são muito importantes. Não consigo ver nos últimos anos os avanços que obtivemos com início, meio e fim e sendo mantidos ao longo de seis anos. Temos microcrédito a juro zero. Isso nunca ocorreu em nível estadual ou nacional. As vidas das pessoas, até aquelas que estão com nome sujo, podem mudar. Então, acredito que o trabalho é inédito e vai ficar para a história.

A Gazeta - Qual o resultado para Mato Grosso do Congresso Mundial sobre combate à exploração sexual infanto-juvenil?

Terezinha Maggi - Foi uma discussão muito importante. Não se restringiu aos estados brasileiros. Para Mato Grosso, foi importante porque, segundo a Unicef, nós temos 30 municípios com esse problema afetando muitas pessoas. Dentre essas cidades, Cuiabá é a maior. Além do mais, é fundamental esse tipo de discussão porque esse é um problema que só tem solução a partir do amparo junto à família. Temos que ter um resgate forte do seio familiar. A partir do momento em que os pais que expulsaram das casas seus filhos por causa de problema como a prostituição, nós dizemos a eles que temos que acolher de volta. É só acolhendo essas pessoas que poderemos trabalhar a capacitação delas para o mercado de trabalho e uma vida melhor.

A Gazeta - E quando a família não aceita?

Terezinha - É difícil preparar a pessoa para vida e o mercado de trabalho, até porque a prostituição, muitas vezes, rende mais dinheiro que ser uma doméstica, por exemplo. Isso a gente já encarou em projetos de capacitação. Portanto, se não houver um trabalho forte com a família para resgatar a sua criança e seu adolescente não poderemos falar em dar condições para que as pessoas tenham dignidade.

A Gazeta - Essa é uma nova perspectiva do trabalho social, ou seja, trabalhar com a família e não apenas com a pessoa que saiu de casa para se prostituir?

Terezinha - Sim. A primeira coisa que temos que fazer é chamar a família e mostrá-la o quanto é importante amar os seus filhos. Se a família percebe o problema e sabe da sua importância no resgate desses jovens, fica mais fácil oferecer o acesso das pessoas aos diversos programas que os governos federal e estadual mantêm. Com isso, poderemos capacitar a família e esses jovens e oferecer condições de acesso ao mercado de trabalho. É isso que vai dar dignidade ao ser humano. Temos hoje, por exemplo, o Projovem (que é um programa iniciado pelo governo federal para resgate de jovens que vivem em situação de vulnerabilidade social). Esse programa oportuniza às pessoas receberem bolsa de R$ 100 por um período de 18 meses. A partir dos 18 anos, depois que ele já for capacitado, ele dá espaço a outra pessoa que também precisa passar pelo mesmo processo como ele. Hoje, portanto, existem vários caminhos para se salvar essas crianças. O problema é que, se a família não quiser, o poder público não pode fazer nada.

A Gazeta - De 2003, primeiro ano do governo Blairo Maggi, houve até o presente momento a mudança nessa relação com as famílias?

Terezinha - Já trabalhamos com as famílias do Lar da Criança, onde temos resultados positivos e oferecemos condições para que as pessoas possam gerar renda a partir de artesanato e coisas que elas mesmo desenvolvem. Temos pessoas que não têm condições inicialmente nem de comprar material para fazer os chinelinhos que elas vendem agora. Então, nós damos um kit para elas darem o ponta pé e depois caminharem sozinhas. É aquela história: nós não vamos dar o peixe, mas sim ensinar a pescar. E isso a gente vem fazendo há seis anos.

A Gazeta - E como está a campanha "Natal das Crianças"?

Terezinha - Está bem. Infelizmente, hoje temos mais pessoas querendo entrar num novo cadastro e não poderemos contemplá-las. Só poderemos atender quem está no cadastramento mantido há cinco anos e que são atendidas através de parcerias com instituições que fazem o bem sem olhar a quem, como o Rotary Clube, Maçonaria, igrejas, entre outras 300 entidades.

A Gazeta - Quantas famílias solicitaram inclusão no cadastro e não poderão ser beneficiadas pelo Natal da Criança?

Terezinha - Vamos atender com cesta básica mais de 100 mil famílias. Aquelas que vieram agora e não poderão receber são 40 mil famílias, além daquelas 5 mil que deixaram de receber o Bolsa Família em Cuiabá e as pessoas que não forem atendidas nesse ano pelo Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil).

A Gazeta - Por falar em Bolsa Família, Cuiabá questiona os dados do Estado sobre o número de famílias que deixaram de ser beneficiadas. O que ocorreu na verdade: as famílias aumentaram a renda per capita ou foram prejudicadas por negligência da Prefeitura?

Terezinha - O problema é que o município tem que atender a uma série de exigências, comunicar endereços dessas pessoas beneficiadas e outras coisas. Se eles dizem que informaram os endereços dessas pessoas, eu quero saber para ir lá e ver pessoalmente. Não sou eu apenas, é o governo federal que quer saber quem são essas pessoas para saber se as pessoas melhoraram de vida realmente ou não foram informadas. Que bom seria se eles tivessem melhorado de vida. Hoje, por exemplo, temos nos ministérios relação de 1,7 mil famílias que, através do cruzamento do Rais (Relação Anual de Informações Social), mostraram que eles estão empregados. O município tem até 31 de dezembro para encaminhar esses dados ao governo e dizer se elas precisam ou não continuar sendo contempladas com o Bolsa Família.

A Gazeta - Mas para receber não depende apenas de estar empregado e sim a renda familiar ser insuficiente.

Terezinha - Isso mesmo. Independente do número de pessoas na família, a renda per capita não pode ser superior a R$ 120. Se for R$ 121, está fora. É por isso que esperamos as informações. O governo federal e o Estado esperam isso para saber os motivos pelos quais essas pessoas estariam recebendo acima do mínimo exigido. Ou as pessoas melhoraram de vida ou faltou informação e as pessoas foram prejudicadas. Em dezembro de 2005, eram 19.374 famílias beneficiadas. Em 2006, o ano iniciou com uma queda de 67 famílias. Isso foi se mantendo até junho. Em agosto, aumentou um pouco para 21.307, mas depois foi caindo. No fim daquele ano, caiu o total para 20.923. No fim do ano passado, ou seja, 2007, reduziu ainda mais para 18.654. No último mês de agosto, já eram 14.912. Essa redução se deve ao fato de que faltou informação se as pessoas beneficiadas atendem às exigências, se estão recebendo atendimento na saúde, frequentando escola, tomando vacina, entre outros. O Lula não quer criança analfabeta e sem saúde. Ele quer ajudar o país a ter um futuro melhor.

A Gazeta - Essa divergência de informação prejudica a relação de Cuiabá e o governo do Estado?

Terezinha - Não, pois estamos apenas cumprindo o nosso papel de orientador, fiscalizador e monitorador. Orientada a Prefeitura já foi. Monitorada também. Agora, nos cabe fiscalizar. Esse é o nosso papel institucional e obrigação legal. Se não fizéssemos isso, estaríamos prevaricando. Não podemos deixar uma irregularidade ou um prejuízo ao povo continuar ocorrendo. Esses números sobre a redução de famílias beneficias não fui eu que inventei. Foi o governo federal que encaminhou. Se a família tem seis membros: pai, mãe e quatro filhos. Divide-se o valor total da renda pelo número de pessoas. Se eles recebessem R$ 600 no total. Teríamos, nesse caso, uma renda de R$ 100 per capita. Eles teriam direito ao Bolsa Família. Se passasse de R$ 121, estariam todos fora. Se o jovem tem 16 para 17 anos, ele fica fora do cálculo. A família ganha pelos três filhos e exclui um. O jovem ganha mais R$ 30. Com isso, fica recebendo R$ 90. No Projovem, se ele tem de 16 a 29 anos ele pode ganhar R$ 100 no projeto. Pode ainda ganhar pelo Peti, portanto, são vários programas que estão aí para as pessoas serem contempladas. Mas o poder público tem que fazer o dever de casa. Eu não deveria ficar cobrando isso.

A Gazeta - Mas essa troca de críticas está superada?

Terezinha - Não são críticas. Todos os municípios do Estado têm que fazer o dever de casa. Recebemos uma premiação por termos feito intervenção em vários municípios mato-grossense com vulnerabilidade social. Será que precisa isso fazer aqui em Cuiabá? Será que precisamos fazer esse tipo de intervenção aqui na Capital também? Se o município não prestar contas de tudo o necessário e essas pessoas baterem na porta do governo do Estado, vamos ter que fazer isso. Esse dinheiro já é das pessoas. A Prefeitura só tem que recadastrar.