Briga termina em morte no Ciaps
Um adolescente com passagens pela polícia, encaminhado para tratamento pela justiça, matou um jovem que já iria retornar para casa
Local é alvo de críticas: cerca de 90% dos internos são encaminhados pela justiça; falta médico e ambulância 24hAndréia Fontes Editora de Geral
Uma agressão dentro do Centro Integrado de Atenção Psicossocial Adauto Botelho (Ciaps) Álcool e Droga, a Unidade 3, localizado atrás do Departamento Estadual de Trânsito, terminou em morte. A vítima é Magno Carmo dos Santos, 24, e o autor do crime Tales Pereira Barros, 18. Os dois estavam no local por determinação judicial. Magno porque era dependente químico e não conseguia vaga e a família recorreu à justiça. Tales porque era usuário e estava detido e foi encaminhado.
No dia 31 de outubro, Magno foi agredido a pedradas por Tales, durante o jantar. Ele foi socorrido e encaminhado para o Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá. Teve atendimento de um neurologista e fez os exames. Foi constatado traumatismo craniano.
Segundo informações, após 2 dias ele foi liberado e retornou para o Ciaps. No local não há médico 24h, inclusive esta é uma das várias críticas feitas ao local. Sem suporte clínico adequado, Magno começou a passar mal na tarde de quinta-feira (6). Ele foi transferido para o Pronto-Atendimento do Adauto Botelho, no Coxipó, onde há médico em tempo integral.
Na sexta-feira (14) pela manhã, o quadro de saúde dele piorou. Magno perdeu rapidamente a consciência e teve uma parada cardiorespiratória. Ainda no PA começaram os procedimentos para tentar reanimá-lo. Ele foi levado para o pronto-socorro, onde morreu.
De acordo com denúncia feita ao jornal A Gazeta, ele foi vítima de "assassinato". A fonte afirma que Magno "não fazia mal para ninguém", ao contrário do agressor, que já teria várias passagens.
A denúncia aponta que o alto número de internações por determinação judicial é um dos graves problemas do local. Com 40 vagas, cerca de 80% a 90% dos pacientes foram encaminhados pela justiça. Mesmo se a equipe médica do local analisar que não é caso para internação, precisa cumprir a determinação, ou corre o risco de ser presa. "Estamos reféns da justiça", afirma a fonte.
Com isso, muitos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) que procuram o local para tratamento, acabam voltando para casa por falta de vagas. "Estamos ferindo os princípios do SUS. No momento que só damos vazão para decisões judiciais e temos que recusar os pacientes que nos procuram".
A morte de Magno foi registrada no Centro Integrado de Segurança e Cidadania (Cisc) do bairro Verdão. Trata-se de um caso de lesão corporal seguida de morte.
A família - A mãe de Magno, Maria do Socorro, estava inconformada com a morte do filho caçula. Moradora de Guarantã do Norte (715 km ao norte de Cuiabá), ela veio durante a semana para ver o filho, logo que soube da agressão. A viagem foi de carona. Na volta, os funcionários do Ciaps fizeram uma quota para ela pagar a passagem. "Eu não tinha R$ 126 para ir ver meu filho. Agora recebo ele no caixão e uma dívida de R$ 5 mil (caixão, velório e translado do corpo). É tudo o que restou do meu filho".
Maria afirma que achou o filho muito debilitado e que somente por isso não levou ele de volta para a casa. O corpo seria levado ontem para Guarantã.
A assistente social do Ciaps, Unidade 3, Soraia Miter Simon, confirma a história. Ela destaca que a discussão entre a vítima e o agressor foi "inconsequente, sem sentido e por motivo banal". Ela também confirma que o número de pessoas encaminhadas pela justiça subiu muito este ano e chega a 90% e destaca que nem sempre a internação é o melhor procedimento. Aponta que quando a pessoa é obrigada a se submeter ao tratamento, geralmente tem comportamento mais agressivo e arredio. "A gente tem que ter habilidade, porque geralmente a pessoa chega revoltada".
Simon enfatiza que a internação é para casos mais graves, quando há risco de vida e que o desejo da pessoa em se tratar é fundamental. A assistente acrescenta ainda que já foram feitos vários pedidos para o local, desde a disponibilização de médico e ambulância 24h até mudança do local, que é muito afastado.
E por último enfatiza, que antes da justiça a família pode procurar a Ouvidoria da Saúde. Ela informou que Magno já estava de alta, mas como foi encaminhado pela justiça precisava de uma autorização para deixar o local.
Um adolescente com passagens pela polícia, encaminhado para tratamento pela justiça, matou um jovem que já iria retornar para casa
Local é alvo de críticas: cerca de 90% dos internos são encaminhados pela justiça; falta médico e ambulância 24hAndréia Fontes Editora de Geral
Uma agressão dentro do Centro Integrado de Atenção Psicossocial Adauto Botelho (Ciaps) Álcool e Droga, a Unidade 3, localizado atrás do Departamento Estadual de Trânsito, terminou em morte. A vítima é Magno Carmo dos Santos, 24, e o autor do crime Tales Pereira Barros, 18. Os dois estavam no local por determinação judicial. Magno porque era dependente químico e não conseguia vaga e a família recorreu à justiça. Tales porque era usuário e estava detido e foi encaminhado.
No dia 31 de outubro, Magno foi agredido a pedradas por Tales, durante o jantar. Ele foi socorrido e encaminhado para o Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá. Teve atendimento de um neurologista e fez os exames. Foi constatado traumatismo craniano.
Segundo informações, após 2 dias ele foi liberado e retornou para o Ciaps. No local não há médico 24h, inclusive esta é uma das várias críticas feitas ao local. Sem suporte clínico adequado, Magno começou a passar mal na tarde de quinta-feira (6). Ele foi transferido para o Pronto-Atendimento do Adauto Botelho, no Coxipó, onde há médico em tempo integral.
Na sexta-feira (14) pela manhã, o quadro de saúde dele piorou. Magno perdeu rapidamente a consciência e teve uma parada cardiorespiratória. Ainda no PA começaram os procedimentos para tentar reanimá-lo. Ele foi levado para o pronto-socorro, onde morreu.
De acordo com denúncia feita ao jornal A Gazeta, ele foi vítima de "assassinato". A fonte afirma que Magno "não fazia mal para ninguém", ao contrário do agressor, que já teria várias passagens.
A denúncia aponta que o alto número de internações por determinação judicial é um dos graves problemas do local. Com 40 vagas, cerca de 80% a 90% dos pacientes foram encaminhados pela justiça. Mesmo se a equipe médica do local analisar que não é caso para internação, precisa cumprir a determinação, ou corre o risco de ser presa. "Estamos reféns da justiça", afirma a fonte.
Com isso, muitos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) que procuram o local para tratamento, acabam voltando para casa por falta de vagas. "Estamos ferindo os princípios do SUS. No momento que só damos vazão para decisões judiciais e temos que recusar os pacientes que nos procuram".
A morte de Magno foi registrada no Centro Integrado de Segurança e Cidadania (Cisc) do bairro Verdão. Trata-se de um caso de lesão corporal seguida de morte.
A família - A mãe de Magno, Maria do Socorro, estava inconformada com a morte do filho caçula. Moradora de Guarantã do Norte (715 km ao norte de Cuiabá), ela veio durante a semana para ver o filho, logo que soube da agressão. A viagem foi de carona. Na volta, os funcionários do Ciaps fizeram uma quota para ela pagar a passagem. "Eu não tinha R$ 126 para ir ver meu filho. Agora recebo ele no caixão e uma dívida de R$ 5 mil (caixão, velório e translado do corpo). É tudo o que restou do meu filho".
Maria afirma que achou o filho muito debilitado e que somente por isso não levou ele de volta para a casa. O corpo seria levado ontem para Guarantã.
A assistente social do Ciaps, Unidade 3, Soraia Miter Simon, confirma a história. Ela destaca que a discussão entre a vítima e o agressor foi "inconsequente, sem sentido e por motivo banal". Ela também confirma que o número de pessoas encaminhadas pela justiça subiu muito este ano e chega a 90% e destaca que nem sempre a internação é o melhor procedimento. Aponta que quando a pessoa é obrigada a se submeter ao tratamento, geralmente tem comportamento mais agressivo e arredio. "A gente tem que ter habilidade, porque geralmente a pessoa chega revoltada".
Simon enfatiza que a internação é para casos mais graves, quando há risco de vida e que o desejo da pessoa em se tratar é fundamental. A assistente acrescenta ainda que já foram feitos vários pedidos para o local, desde a disponibilização de médico e ambulância 24h até mudança do local, que é muito afastado.
E por último enfatiza, que antes da justiça a família pode procurar a Ouvidoria da Saúde. Ela informou que Magno já estava de alta, mas como foi encaminhado pela justiça precisava de uma autorização para deixar o local.