quinta-feira, 27 de novembro de 2008

SC vive onda de saques e brigas




Ondas de saques, briga por comida e roupas e pouca água potável. Este é o cenário enfrentado por moradores das cidades mais atingidas pelas enchentes em Santa Catarina, principalmente Itajaí e Navegantes, onde as águas encobrem bairros inteiros e moradores ilhados tentam defender seus bens.

A Defesa Civil apontava 97 óbitos até as 23 horas de ontem no Estado. Ao menos 19 pessoas estão desaparecidas e 78.656 desabrigados.

Há dois dias, a família de Alcendino Pereira, de 84 anos, dorme preocupada com o medo de saques em Itajaí. À meia-noite, homens de barco começaram a rondar a sua casa, ainda com quase um metro debaixo d’água. Os saqueadores estão aproveitando as casas vazias para furtar o que podem. “Eles começavam a falar qualquer coisa para ver se têm gente na casa”, lembra Ricardo Arno Bitencourt, de 57 anos, genro de Pereira. Para o andar de cima da casa foram levados televisores, geladeiras, fogões e computadores.

Para chegar às casas ainda submersas, é preciso ir de barco. Há propriedades aparentemente vazias, mas ao menor sinal de aproximação aparece alguém. João Adelino da Silva, de 34 anos, foi ontem conferir se o maquinário que possui continua lá e se será possível recuperá-lo. Com a Mecânica União, sua e de outros três sócios, ainda debaixo d’água, viu que os aparelhos de solda, de pintura e compressores continuam submersos. Seu medo, contudo, é quanto aos saques na região. Funcionários da empresa revezam-se na vigilância. “Prefiro a enchente do que bandido. Vamos lutar pelo que é nosso”, afirma.

Em Itajaí, filas quilométricas se formaram ontem com a divulgação, precipitada por uma emissora de TV, da distribuição de cestas básicas. A PM e o Exército foram chamados. “A realidade é que não está chegando comida para todos”, afirmou o major Edson Biluk. Até na distribuição de roupas houve confusão. 'A multidão está saindo do controle', disse Viviane Alves, de 26 anos, voluntária da Cruz Vermelha

Em Itajaí, comida e água, escassas, têm sido distribuídas até por barco. Com os saques, bombeiros têm feito rondas nas ruas alagadas.

Boatos espalhados pela internet afirmavam que Itajaí deveria ser esvaziada ainda ontem, sob risco de nova inundação. A prefeitura teve de avisar as rádios para divulgar que a notícia era infundada. Mas ela já dá medida do ânimo exaltado na região. Também em Itajaí, um colégio foi saqueado ontem de manhã. Foram levados computadores, impressoras e televisão.

Ontem, moradores de bairros distantes foram até um supermercado após ouvir boatos de que estabelecimento estaria distribuindo alimentos. No local, a multidão se deparava com um lixão aquático. Poucos mantimentos boiavam. Muitos moradores mergulhavam para pegar os produtos submersos.

Em Navegantes, a prioridade é controlar o caos, sobretudo na distribuição de alimentos, e evitar saques. A maior parte do comércio está fechada. Os produtos disponíveis são vendidos com ágio. O galão de água mineral, de 20 litros, saltou de R$ 5 para R$ 20.