quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

CALAMIDADE



Falta de água atinge 140 mil pessoas em Várzea Grande

Raquel Ferreira
Da Redação

Mais de 60% da população de Várzea Grande está sem água desde o dia 16 de janeiro. São mais de 140 mil pessoas que vão continuar enfrentando o problema. As regiões mais afetadas são a Ponte Nova, o Grande Cristo Rei e o Centro. A previsão do Departamento de Água e Esgoto (DAE) é que o fornecimento só volte ao normal durante o final de semana.

A falta de água na cidade foi provocada pelos equipamentos utilizados na captação e distribuição que, segundo o secretário Jéverson Missias, são antigos, obsoletos, problemáticos e estão em funcionamento há mais de 30 anos. Ele explica que um novo equipamento estava sendo instalado na semana passada no Sistema Velho de Captação de Água, mas devido a um problema técnico os antigos aparelhos tiveram que ser reativados e estragaram, interrompendo o abastecimento e provocando transtorno à população.

Morador do bairro Cristo Rei há 30 anos, Josias Pinheiro da Silva é um dos 230 mil habitantes de Várzea Grande, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele conta que o problema de falta de água é histórico na cidade. "Sempre reclamamos e isso nunca foi resolvido. Direto temos que comprar água".

A esposa dele, a cabeleireira Sirlene Aparecida da Silva, lembra que nos últimos tempos o abastecimento estava regular, vindo em dias alternados, mas desde sexta-feira (16) as torneiras secaram. Como depende de água para trabalhar, a cabeleireira revela que não está abrindo o salão. A água disponível nos reservatórios da casa tem como principal destino as louças. "Vasilha suja é o que mais me incomoda".

No Parque do Lago, um dos bairros que compreende o Grande Cristo Rei, a água chega fraca e não consegue encher o pequeno reservatório da casa de Rosinete Gomes. A única caixa de água é insuficiente para suprir as necessidades da família. "Temos somente essa caixa. Quando falta água muito tempo ela seca e ficamos sem nada".

No bairro Vila Sadia a reclamação sobre o abastecimento existe há anos e nunca foi resolvido, apenas amenizado com fornecimento de água a cada 2 ou 3 dias. Uma moradora conta que vive no local há mais de 25 anos e já passou até 15 dias sem água. Como mora na parte alta do bairro, sofre ainda mais com a falta de abastecimento. "As vezes chega água nas casas das ruas mais baixas, mas não tem força para subir até aqui".

A comerciante Vera Lúcia Ferreira mora na rua mais baixa da Vila e conta que a última vez que viu água chegando foi na última sexta-feira (16). "A reserva já está no fim".

Outros bairros - O DAE afirma que estão com abastecimento normal os bairros Mapim, Jardim Glória 2, Cabo Michel, Jardim dos Estados, Distrito Industrial, Jardim Imperial, Terra Nova, Mangabeira, Cohab Tarumã, Cohab Nova Ipê e Nova Esperança, Jardim Manaíra, Chapéu do Sol e Manancial.

Em nota enviada à imprensa, garante que essas localidades "não sofreram com o problema uma vez que são abastecidos pela Estação Nova, localizada na avenida Júlio Campos".

A reportagem visitou os bairros Mapim e Jardim Glória 2, citados pelo DAE como abastecidos, e constatou que a falta de água também afeta os moradores do Jardim Glória. A atendente de caixa, Valéria Paula Oliveira, 21, reclama que há uma semana não tem água em casa.

Ao passar pela rua e ver a reportagem, Poliana Pereira de Arruda, 21, disse que queria reclamar sobre a falta de abastecimento no bairro. "Estamos sem água há uma semana. Passamos dificuldades para fazer comida, lavar roupas e tomar banho. Temos reservatórios e caixa de água, mas estão secando".

O problema na casa de Poliana é agravado pela quantidade de crianças que moram com ela. "São 5 crianças e 6 adultos. Não tem como controlar os menores, que se sujam bastante".

A falta de água no bairro provoca um problema a mais para o sitiante Sérgio Fortunato da Silva, 64, que não consegue lavar o reservatório utilizado para cuidar dos animais que cria. "A moça da dengue veio aqui colocar o remédio para o mosquito morrer, mas pedi para colocar pouco porque dou essa água para os animais e não pode acabar".

Ele afirma que lavará a caixa quando o fornecimento estiver normalizado. Por enquanto, o sitiante divide o pouco da água que tem com os vizinhos, que vão em sua casa tomar banho.

Solução - O secretário do DAE afirma que os novos equipamentos estão em funcionamento e começaram a captação de água ontem. Porém, antes de ser distribuída, a água precisa ser tratada, reservada e depois lançada na rede para a população. A previsão para que todo processo ocorra é de 2 dias.

Missias comenta que os cabos da nova aparelhagem estão superaquecidos, mas ainda assim o equipamento não foi desligado para que a água chegue a casa dos moradores o mais rápido possível.

Além dos antigos aparelhos, o secretário destaca as ações de vândalos e o crescimento da população como agravantes para o problema histórico da falta de água em Várzea Grande. Missias comenta que a quantidade de água tratada hoje é a mesma de 10 anos atrás. Porém, atualmente, residem na cidade cerca de 50 mil pessoas a mais que antes. Com a troca de equipamentos na Estação do Cristo Rei, o secretário prevê que até junho o problema estará solucionado na região.