segunda-feira, 12 de maio de 2008

Prostituição, violência e tráfico de drogas "invadem" Centro Histórico

Um local que deveria ser usado como ponto turístico não passa de ponto de encontro de malandros, prostitutas, meninos de ruas e bêbados


O entra e sai dos protíbulos, "disfarçados" de bares, é grande durante o dia


Wisley Tomaz
Especial para A Gazeta

O Centro Histórico de Cuiabá continua palco de prostituição, tráfico de drogas e violência. Um local que poderia ser usado como ponto turístico - em função da arquitetura dos seus casarios, ruas ainda pavimentadas com paralelepípedos e do saudosismo do passado - não passa de ponto de encontro de malandros, prostitutas, meninos de ruas, bêbados, traficantes, entre outras pessoas que vivem marginalizadas.

Na rua conhecida como "Beco do Candeeiro", é onde se concentra a maioria dos pequenos prostíbulos, que se "disfarçam" em bares, já que na maioria deles há mesas de sinuca na entrada e "junk box" (vitrolas eletrônicas). De acordo com as pessoas ouvidas pela reportagem, entre elas um mototaxista que pediu para não ser identificado, o movimento começa logo pela manhã, por volta das 9 horas, e só encerra ao amanhecer. "O dia inteiro tem gente entrando e saindo desses "inferninhos" ai, a prefeitura fecha, mas todos os dias abrem outros. Aqui tem de tudo quanto é espécie de gente atrás de sexo e drogas, desde adolescentes a velhos e bandidos. De vez em quando morre, assassinado ou de overdose".

A reportagem esteve durante dois dias no local, conversou com várias pessoas, entrou em algumas dessas casas e pode perceber que ainda há cabarés funcionando normalmente, sem alvarás e quaisquer condições de higiene - no total contabilizados oito. Há lugares, inclusive, com quartos onde são feitos os "programas" exatamente ao lado das cozinhas, onde se fritam porções e demais alimentos comercializados para os clientes.

Em um determinado momento, por volta das 15 horas, caminhávamos pelo "Beco", quando fomos abordados por uma jovem, que estava em companhia de mais duas amigas, todas ingeriam bebidas alcoólicas. Ela tinha cerca de 20 anos, magra, traços finos, vestia uma pequena saia e mini-blusa, que deixava seu abdome de fora. Sem nenhum constrangimento, ela disse: "Vamos fazer um sexo?" Perguntamos quanto custava e onde era seu local de trabalho, ela apontou um dos bares e disse que lá havia quarto com banheiro e que cobrava R$ 40.

Revitalização do Centro Histórico - Uma das promessas de campanha da atual administração municipal foi fechar ou transferir os prostíbulos do Centro Histórico de Cuiabá. Por algumas vezes a prefeitura até tentou, com operações em conjunto com a Polícia Militar e Vigilância Sanitária, mas eles sempre são reabertos. Segundo o secretário de Meio Ambiente de Cuiabá, Osmário Daltro, a prefeitura tem consciência do problema. "Estamos com uma ação planejada e com data marcada para ser executada, vamos fechar todos os locais que estiverem funcionando sem alvará e estiverem servindo como casas de prostituição. No centro não é local para isso, sabemos que é difícil, mas vamos acabar com a prostituição naquela região".

Drogas - Em um dos prostíbulos visitados pela reportagem, um jovem vendia substâncias entorpecentes para clientes e mulheres visivelmente drogadas. Apesar de estarmos dentro do bar, não fotografamos em função do risco de uma represália por parte do traficante e também dos usuários. Em contrapartida, há poucos metros dali, havia cerca de cinco policiais militares e, também, em diversos pontos da cidade em função do feriado do Dias das Mães.

O comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo policiamento na região central da Capital, coronel Jandir Metello Costa, falou sobre o problema. "Sempre fazemos operações naquela região, mas ali é complicado, pois muitos daqueles bares funcionam com alvarás. O problema vai além do trabalho da polícia, pois se trata de uma questão social. Mas é de nosso interesse que aquilo tudo ali seja fechado, pois sempre há crimes, como assassinatos e vendas de drogas".

Idade - Um dos detalhes que pudemos observar nos prostíbulos foi a idade das mulheres, muitas delas tinham mais de 40 anos e algumas com até 50. Além de mal vestidas e sujas, sua expressão facial era, na maioria das vezes, triste. Uma delas pediu que pagássemos uma bebida a ela, pois fazia algumas horas que não bebia, disse estar ali porque gostava do que fazia.

A psicóloga Irenize Canavarros fez algumas ponderações sobre essa questão. Segundo ela, muitas mulheres não amadurecem e, ao invés de crescer pelo amor, o fazem pela dor. "Algumas dessas mulheres são sofredoras e não fazem uma síntese da dor, procuram um atalho. Muitas são largadas pelos maridos, já com uma certa idade, e no lugar de procurar outro companheiro acabam entrando na prostituição, mesmo sabendo que há outros meios de ganhar a vida", avalia.

Outra ponto colocado pela especialista é que muitas prostitutas continuam na vida, apesar de a idade ficar um pouco mais avançada, em função da procura. "Há muitos homens que se sentem mais seguros para praticarem sexo com mulheres bem mais velhas, isso é completamente comum. Ou seja, se há procura elas continuam o seu trabalho".