sábado, 3 de outubro de 2009

EMERGÊNCIA



Consternados, cirurgiões ‘entregam’ box

Médicos fizeram último plantão ontem, antes da vigência da demissão e passaram setor à direção do PSMC, depois de não entrarem em acordo com município




No fim do dia, SMS enviou uma nota informando que deve terceirizar o atendimento médico no box

JOANICE DE DEUS
Da Reportagem

Antes de deixar o box de emergência do Pronto-socorro Municipal de Cuiabá (PSMC), os quatro cirurgiões que estavam de plantão na noite de quinta-feira e a madrugada de sexta repassaram o plantão ao diretor da unidade, Huark Corrêa. Também registraram boletim de ocorrência na polícia para se resguardar.

“O último plantão não fugiu às regras dos demais. Não tivemos intercorrência de maior gravidade, nenhum baleado ou emergência cirúrgica. O que chamou a atenção foi a superlotação no box, onde havia 19 pacientes”, relatou o cirurgião, Alberto Bicudo, que atuou no PS por seis anos.

Ele e os outros três plantonistas, Walter Gouveia, Luiz Fernando Correa, Ramon James, deixaram a unidade pelo portão somente após a chegada do diretor, às 8 horas. “A sensação é de tristeza, de consternação. Sabemos da importância do pronto-socorro para a população, embora a nossa luta seja por melhorias e historicamente a situação nunca foi tão complexa”, relatou Bicudo.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), 23 médicos pediram demissão. Do total de demissionários, 20 são cirurgiões, dois são clínicos gerais do pronto atendimento (PA) adulto e uma é médica do PSF Novo Mato Grosso. Apesar dos outros oito cirurgiões não terem pedido demissão, nenhum deles estava de plantão ontem no box de emergência.

Bicudo comentou ainda que embora haja outros profissionais da área na cidade, não com o perfil de atendimento em traumas, a SMS terá dificuldade em contratar novos cirurgiões. “Não há atrativos, as condições de trabalho são péssimas e os salários, baixos”, frisou.

Ontem pela manhã, a situação era de aparente tranquilidade no pronto-socorro e quem chegava a pé ou de carro era informado pelos funcionários que não havia médicos atendendo.

Segundo a SMS, a orientação era para que os casos mais graves fossem levados para o Pronto-socorro de Várzea Grande, onde os médicos também estão em greve e realizarão assembléia geral na próxima terça-feira. Os menos graves deveriam ser levados para policlínicas.

Na segunda-feira, são os pediatras da Capital que se reúnem à noite. Do total de 51 pediatras, entre os setores de emergência e UTIs da unidade, 26 pediram demissão, cujo aviso prévio termina hoje.

OUTRO LADO – A Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá divulgou, na tarde de ontem, uma nota na qual explicou que os cargos deixados pelos demissionários serão preenchidos pela prefeitura por meio de contratações individuais ou terceirização – a alternativa mais provável é por meio de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP).

A SMS também destacou na nota que, enquanto não forem preenchidas as vagas dos médicos, pacientes vítimas de traumas têm de ser encaminhados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para outra unidade de urgência e emergência. (Colaborou Renê Dióz)