O culpado pela DenguePor Fabiano Rabaneda Depois da catástrofe temos mania de encontrar culpados, isso é natural do homem, e não seria diferente em Cuiabá. Depois do absurdo caso da epidemia de dengue, que já vitimou três pessoas – quatro, cinco, seis, quinhentas... –, as autoridades buscaram de pronto identificar e culpar alguém. Encontraram respaldo nas residências que estão fechadas, e, em tese, permitiram a proliferação do mosquito matador. Por isso é que hoje portas estão sendo arrombadas, não só pelos bandidos, tampouco pela Policia Federal – em mais uma de suas “show-flash-camera-man” –, mas pelos agentes de saúde do município, municiados de autorização judicial, em busca de larvas e focos do Aedes aegypti. Encontrado o pseudo-culpado, o administrador da Capital foi logo aparecendo e apontando o dedo para a causa. Esquece ele que ao apontar um, três se viram em sua direção. O primeiro denuncia a falta de um planejamento sério de uma política pública preventiva. Não sou especialista no assunto, tão pouco tenho autoridade suficiente para falar sobre isso, o meu conhecimento é empírico. Pela lógica basta dizer que se houvesse prevenção não haveria epidemia – onde estavam os fumacês? Desculpas “de passarinho morto” não me convence – . Já o segundo revela a falta de estrutura nos atendimentos clínicos, seja público ou privado. Nesse posso falar à vontade, já que sou usuário e sofro na pele pelos constantes diagnósticos de virose atestados. Hoje em dia tudo é virose, e como virose é tratado. E que se dane o hemograma, ou quiçá, considerando a noticiada epidemia, o simples “teste do laço”. Foi assim que Ana nos deixou, por considerar que tudo não passava de uma virose. Em terceiro, volta sobre a parceria do município e a sociedade “organizada”, que não se organizou em tempo de conter o leite que derramou. Agora, tardiamente, promove gincanas de caça do pernilongo. Logo no fim das chuvas... Muito efeito vai ter... Absurdo! Parece propaganda para Inglês ver. E é! Ingleses da FIFA. A premiação promete cem mil de um fundo tal – não poderiam usar o dinheiro antes? O que fica é a foto de Ana Laura, que corre a internet pelo e-mail pedindo justiça. Em nossa natureza os pais se vão antes dos filhos, é assim que suportamos a dor da perda. Não foi desse jeito para as famílias vitimadas, que agora enterram suas esperanças e convivem com a dor de perder o sonho para tanto descaso. Mosquitos assassinos em pleno século XXI. Tamanha a evolução da ciência, e somos confinados ao abandono total e sentimos o cheiro da morte que nos espreita pelo zumbido que vem do ar. Doadores anônimos de sangue, plaquetas salvadoras e não temos UTI para acomodar os doentes. Exército nas ruas, tendas armadas, vidas ceifadas e o caso do Ralf finalmente abafado. “Incapacidade do município, mesmo com a ajuda do Estado e do governo federal, em acabar com o mosquito”. Será mesmo que a administração municipal tem feito sua parte? Propagandas televisivas não matam mosquitos... Maneira de se isentar da responsabilidade: Fizemos nossa parte alertando a população. Abuso que precisamos coibir! Ana Laura será mais um símbolo, família que forma opinião e luta por justiça. Esquecidos estão o jovem do Campo Velho, e o menino M.C.T, como prefere chamar o garotinho de dois anos. Ambos faleceram pela doença. Passeatas e camisetas com fotos, gritos na Praça da República, e, quando a chuva passar, os mosquitos morrerem, a epidemia nos deixar, as memórias serão apenas daqueles que não mais darão colo. Crime sem autor é punição que nunca virá... É uma pena... ---------------------------------------------------------------Fabiano Rabaneda é Bacharel em Direito.
