quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Eduardo Póvoas e Wilson Santos





ENOCK CAVALCANTI

Meus amigos, meus inimigos: encontrei-me com Eduardo Povoas. É um polemista decidido. Imaginem só: Póvoas assume que seu partido se chama Blairo Maggi e que o atual Prefeito de Cuiabá, Wilson Santos, é um administrador borra-botas, garantindo que o Galinho só tem feito besteira à frente da Prefeitura.


Com base nestas teses, Eduardo tem construído artigos que se destacam pela contundência, a ponto de incomodar aqueles que cuidam da campanha de Wilson a governador. Para esses, seria importante parar o Eduardo Póvoas, fazer com que diminuísse a força dos petardos que dispara, através da mídia. Está incomodando mais que o bombardeio do Hamas sobre Jerusalém.



Para mim, quanto mais polêmicas melhor. Eduardo Póvoas, filho do historiador Lenine Póvoas, irmão da desembargadora Maria Helena Póvoas, cuiabano de quatro costados, está mais do que credenciado para criticar seja quem for. E certamente que criticando, de forma tão desabrida ao prefeito da capital, e defendendo de forma tão apaixonada o atual governador do Estado, Eduardo se expõe também a petardos de todos os lados.



A isso chamo coragem. Este tipo de comportamento digo que se constitui em importante prestação de serviço à comunidade. Chato são os que se calam, os que aplaudem todo mundo e nunca se posicionam diante de ninguém e de nada que acontece em derredor.



A crítica política tem dessas coisas: quando você a pratica, a primeira preocupação do oponente mal intencionado ou desmascarado é tentar te desqualificar, sem valorizar a contribuição que você está dando para que o entendimento da realidade avance. Eu, que critico tanto ao Wilson Santos, discordo do Eduardo Povoas quando generaliza e tenta mostrar que Wilson é como que o novo nome de Belzebu. E, ao contrário do próprio Wilson, tenho admiração pela fase inicial da carreira do Galinho, quando pontificava como vereador e, depois, como deputado estadual.



Sim, o Galinho envelheceu, abastardou um pouco o seu discurso, mas quem não mudou depois que envelheceu? No seu esforço para ampliar sua base de apoio e chegar ao Paiaguás, Wilson repete aquela mesma diluição de discurso que tem sido responsável pelos piores momentos do presidente Lula e pelos piores momentos do PT.



O grande problema aqui é a traição para com a base de sustentação. O enorme contingente de eleitores e cidadãos que criaram e fortaleceram o PT, ao longo dos anos, jamais imaginariam ver Lula abraçado com Collor, com Sarney, com Maluf.



A busca da governabilidade pelo alto, desconsiderando a base de sustentação, é o grande motivo do enfraquecimento ideológico do PT - e esta leitura também pode ser feita, aqui entre nós, com relação a Wilson Santos, um político que cresceu pela esquerda e que construiu sua história liderando a luta dos sem tetos nas periferias de Cuiabá.



É impressionante a força e a respeitabilidade com que Wilson ainda conta entre os setores mais humildes. Wilson sempre foi uma voz que bradou forte para defender esses cuiabanos subalternizados. É triste quando se vê uma liderança assim deixar este patrimônio político se diluir entre conchavos mal explicados com empreiteira de lixo, com patrões de empresas de ônibus ou no surpreendente esforço de resgatar a imagem de encarquilhadas figuras da direita como o prefeito nomeado pela ditadura militar, Frederico Campos.



Imagino que Wilson - que ao mesmo tempo que endeusa Lula abre negociações com partidos aventureiros os mais diversos - anda abrindo demais as pernas e corre o risco de acabar com a bunda no chão. Não sou tão crítico nem tão mordaz como Eduardo Povoas. Continuo a definir Wilson como um quadro partidário admirável, um político de reconhecida honradez pessoal mas vejo que o prefeito de Cuiabá, tal qual o presidente do Brasil, anda meio embananado.



Não sabe que rumo seguir e parece acreditar mesmo que não existam mais caminhos à direita e à esquerda - e por isso vai se atolando no lamaçal da ineficiência, deixando de apresentar contribuições ao debate que anda obliterado por tanto eleitoralismo que é o debate sobre os avanços urgentes em nossa democracia representativa - de tal forma que não seja mais possível dissociar as lideranças políticas que forjarmos de seus compromissos com sua base social. Mas, por hoje, meu espaço chega ao fim. Voltarei, claro, ao assunto, nesta conversa sem fim.



ENOCK CAVALCANTI, jornalista, é titular do blog www.paginadoe.com.br.