sexta-feira, 13 de novembro de 2009

ARTIGO Apropriação indébita


ÉDIO MARTINS

Apropriação indébita

Na posse da diretoria da Agecopa assisti uma cena inusitada. Na mesma semana em que o prefeito de Cuiabá, em um lapso de memória, disse em evento promovido pela Associação dos Municípios que o Governo do Estado nada faz pelo trânsito de Cuiabá (sendo que a competência é da gestão municipal), o fato que vou contar abaixo me chamou bastante a atenção.

Após a comunidade insistir com a Prefeitura a necessidade de reformar o trevo de acesso ao bairro Paiaguás - próximo à rotatória de saída para a Chapada e Distrito da Guia -, o Governo do Estado entendendo a importância da referida obra de reestruturação de um lugar marcado pela quantidade e frequencia de acidentes de trânsito, resolveu fazer os investimentos necessários. Até aí tudo bem, o estranho está daqui pra frente. Assim que viu a obra sendo realizada, o prefeito não perdeu tempo em enviar para o local os seus ‘amarelinhos’, e com eles, as placas da prefeitura. Confesso que por um instante cheguei a pensar: “Enfim, a prefeitura começou a fazer algo realmente importante pelo trânsito caótico”.

Isso não passou de ilusão, como tantas outras ‘coisas’ que vêm do prefeito cuiabano. Ao perceber a estratégia ladina do tucano, o Governo ordenou a colocação de placas do autor da obra, neste caso, o Executivo Estadual. Agora, a cena que citei acima e o motivo que me levou a escrever este artigo. O prefeito ao cumprimentar um secretário de Estado na posse da diretoria da Agecopa, em alto e bom som para que todos os presentes ouvissem, reclamou da atitude de Governo: “Secretário, você foi reclamar porque coloquei placas lá na obra do trevo do Paiaguás, oras, você é maior que isso”. Na verdade, o prefeito é que deveria ser maior que isso. Fazer cortesia com o chapéu dos outros, seu Prefeito?

Pois bem, a resposta eu não ouvi, mas, todos devem imaginar. Um secretário pode até ser maior que essas questões, então, quiçá o prefeito que deveria se preocupar em ADMINISTRAR, coisa que até agora, não fez, e cumprir suas promessas de campanha e não simplesmente se apossar das obras do Governo Federal e Estadual como lhe é de costume. Queria eu ter o prazer de vê-lo agir com a mesma voracidade nas questões que são de sua competência como a saúde pública de Cuiabá, por exemplo, ou ainda, as obras do PAC que estão empacadas, o 14º salário com a educação, a reestruturação do plano de cargos, carreiras e salários do funcionalismo público municipal, nada mais que cumprir seus compromissos junto àqueles que acreditaram na lábia do prefeito e lhe deram o voto.

A verdade é que o problema não está em não fazer, isso o povo já sabe. O problema é não ter iniciativa, poder de decisão, um plano de governo. O problema é prometer e não cumprir, mentir, persuadir a população. Isso ele faz bem. O problema não está somente em pintar o meio fio -diga-se de passagem, com aquele verdinho horrível - dos quase 200 quilômetros de asfaltamento urbano feitos pelo Governo em Cuiabá – o problema é não reconhecer quem faz e se apossar das coisas alheias.

O prefeito deveria mostrar a que veio. Ou, se preferir, que deixe apenas a imagem que todos nós já temos: de um administrador que aproveita a obra do trevo do bairro Paiaguás e enche de placa da prefeitura, o mesmo que tirou na duplicação da Avenida Beira Rio as placas do Governo do Estado, e também da Avenida das Torres. Vê-se que o problema é de conduta, de índole, de caráter. As placas de autoria das obras podemos até ver mudar, mas isso, infelizmente não.



* ÉDIO MARTINS é presidente da União Cuiabana de Associações de Moradores de Bairros (Ucamb)